sábado, 22 de agosto de 2009

Capítulo 19

Retornamos a Florianópolis e a nossa rotina de sempre, mas a imagem de Leonardo não saia de minha cabeça. Aquele sorriso, aquela simplicidade. Um sentimento confuso começou a tomar conta de mim. Mas evitei pensar, afinal havia uma longa distância entre nós. Morávamos em municípios diferentes e portanto, ele se tornaria apenas uma linda lembrança em meio ao caos em que estava vivendo.
Quarta-feira, termina a aula na faculdade, a chuva era forte. Saí da sala de aula e me dirigi ao ponto de ônibus, precisava pegar o "busão" das 11h e 30min. para não chegar atrasada na Assembléia. Estava correndo entre os carros no estacionamento para evitar me molhar quando escuto aquela voz tão conhecida.

- Bia! Bia!! Beatriz!! Olhei para trás e lá estava o Douglas, quase todo encharcado. Parei e voltei em sua direção.
- Vem ligeiro, meu carro está logo ali.Não havia como discutir, caia muita água, a única alternativa era aceitar o convite e entrar no carro.
Nós dois, quase que inteiramente molhados, entramos no carro.

- Bia, nós vamos almoçar juntos e vamos conversar, tenho muitas explicações para te dar e não pode passar de hoje.Fomos a um restaurante no centro da cidade. Sentamos-nos e pedimos o almoço. Douglas me pareceu inquieto e pela primeira vez percebi nele certa insegurança. Permaneci calada, nenhuma pergunta.
O silêncio constrangedor foi quebrado por Douglas:
- Eu fui o culpado.
- Culpado? Culpado de quê?
- Pela paralisia de Sílvia. Vou te explicar tudo.
Se antes eu estava calada, fiquei completamente muda diante do que ele me contava.

- Cerca de um ano atrás, convidei a Silvia para um vôo de asa delta, meu esporte preferido. Ela não queria ir de jeito algum, mas insisti, queria fazê-la perder o medo de voar. Pela minha insistência Silvia acabou cedendo. Foi comigo voar, somente para me satisfazer. Fizemos um vôo em dupla, mas não sei o que aconteceu, na hora de pousar deu problema com a asa delta. Eu, como tinha experiência, consegui amortecer a queda e sai com ferimentos leves, mas a Silvia, diante do desespero e do total desconhecimento, acabou se ferindo gravemente. O impacto foi muito forte e lesionou a coluna vertebral.
O almoço chegou, mas Douglas nem tocava na comida e muito menos eu, que estava atônita diante do que ele falava.

- A partir daí, Silvia passou por diversas cirurgias e fisioterapias. Os médicos falam que Silvia voltará a andar, aliás já vem apresentando melhoras significativas nos últimos meses, mas sua profissão de modelo não poderá ser mais retomada. Silvia é órfã de pai e mãe e tem apenas uma irmã, que mora na Espanha.

Douglas me olhou nos olhos pela primeira vez durante a conversa, esticou seu braço e pegou em minha mão, fez um leve carinho e continuou:

Um comentário:

  1. Por isso que ele se calou quando Bia o indagou se gostava de asa delta. Que história triste! É um trauma que fica para o resto da vida.

    ResponderExcluir