quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Equívoco

Você já sentiu ciumes? Fez alguma cena por isso?  Então olhe essa história da Mariana.


"Nove de maio de 2008, véspera do aniversário de Mariana. O dia transcorreu tranqüilo, até que o silêncio da tarde foi interrompido pelo som estridente do toque do telefone.
_ Alô?
Uma voz feminina e conhecida fala do outro lado:

_ Mariana, sou obrigada a te contar amiga. Seu marido está aqui no shopping, acompanhado de uma loira!! Ela é tão linda, que parece a Júlia Robert!
Mariana fica estática, muda, estremeci da da cabeça aos pés.
_ Alô? Alô? Mariana? Você está ai? Alô??

Pálida, Mariana desliga o telefone. Sentindo-se perdida, só conseguia pensar:

“Miserável!! Me traindo de novo!! Logo no shopping? Não podia ser em outro lugar? Tinha que ser justamente em lugar público, cheio de gente? Bem nas vésperas do meu aniversário e dia das mães? Ai!! Que ódio!! Eu mato aquele infeliz!! Mas também, bem feito, quem mandou perdoar uma traição. Quem perdoa acaba levando chifre de novo. Eu mereço!! Eu mereço!! Mas isso não vai ficar assim. Quando ele chegar eu vou aprontar uma pra ele! Há!! Vou sim. Quero rodar a baiana!! Miserável!! Cafajeste!! E veja só, uma loira parecida com a Julia Roberts? Nossa! Deve ser um mulherão! E eu aqui, nessa economia toda, me privando da vaidade para ajudar esse infeliz!”

Sem saber o que fazer, Mariana andava pela casa igual a barata tonta, tomada de raiva e de orgulho ferido.
“Calma Mariana, calma”. Pensava. “Tenho que agir com cautela, não posso ser precipitada. Calma, calma.”

E ali ficou Mariana, zanzando pela sala, sem se dar conta do tempo. De repente escuta o portão se abrir e o carro entrar na garagem.

“Pronto! É agora que faço aquele infeliz ir para o inferno!! Há! Faço sim!!–Pensava Mariana.
Tentando disfarçar sua ira, Mariana senta-se no sofá e liga a televisão.
Ele entra sorridente e, com uma enorme caixa nas mãos vai na direção de Mariana, dizendo:

_ Olha meu amor, esse presente é pelo seu aniversário, escolhi com todo carinho do mundo.

Sem se conter, Mariana pega aquele embrulho de presente e começa a gritar:

_ Carinho? Amor? Está pensando o quê? Você acha que não foi visto? Você acha que já não me contaram tudo? Hem? Hem?

Com toda a força possível, Mariana joga no chão o lindo embrulho e um enorme barulho de vidro quebrando espalhou-se pela casa.
Ele ficou branco depois vermelho e bufando falou:

_ Eu fui com a Ari, ela me ajudou a escolher! Andamos naquele shopping mais de 3 horas!!
Mariana fica muda, branca, depois vermelha. Não sabia mais o que fazer, queria morrer!! Pega o telefone e liga para sua cunhada.
_ Alô?

_ Ari, sou eu, a Mariana, tudo bem?

_ Oi cunhada!! Tudo bem! Você gostou da fruteira de cristal? Eu ajudei a escolher!

Então Mariana olha para o porta retrato em cima da estante e percebe o quanto sua cunhada é parecida com a Júlia Robert."

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Um bola fora"

“Um bola fora”, é uma expressão utilizada para definir um fora, uma gafe, ou seja, algo que foi dito na hora errada e de forma inconveniente.



Que atire a primeira pedra aquele que nunca cometeu um “bola fora”.


Existem pessoas que dificilmente cometem algum, existem outras que são mestres no “bola fora”. Eu sou uma dessas pessoas, digamos, “mestres” em dar um “bola fora”. Mas não é por maldade e nem intencional, é por ser espontânea demais e às vezes acho que o meu tico foge do meu teco.
Vou relatar o meu último grande “bola fora”... rsrsrs... que aconteceu alguns anos atrás.


Em um desses cursos promovidos pela secretaria de educação, encontrei uma antiga amiga. Já havia muito tempo que não nos víamos, então, após a palestra, quando todos se retiraram da sala, pudemos conversar e colocar a fofoca em dia. Falamos das escolas, dos alunos, dos tempos de faculdade, de outras pessoas etc....

Depois de algumas horas de conversas, entra pela porta da sala um homem gordo, muito gordo. De tão gordo, quase não passava pela porta. Aquilo além de chamar a atenção, ainda me deixou impressionada, pois nunca havia visto algo tão “imenso”. Meio assustada perguntei a minha amiga:

_ Fulana, o que é aquilo??


Ela, tranquilamente, respondeu:






_ É meu marido.








domingo, 23 de agosto de 2009

NAS ASAS DE UM TOP GUN

Uma história que tem como cenário a bela ilha de Florianópolis. A ilha da Magia.

Capítulo 1

Outubro de 1985, a Base Aérea de Florianópolis abre seus portões ao público na comemoração do Dia Nacional do Aviador.
O dia amanheceu perfeito. Sol, calor e nenhum vento, ideal para vôos de aeromodelo.
Oito horas da manhã, nosso Opala, relíquia da família, entra pelo portão da Base Aérea. Ao volante, meu irmão Fernando, no banco do carona nosso amigo Adriano e no banco traseiro, eu e minha inseparável amiga Fabi. No enorme porta-malas do Opala, três aviões de aeromodelo e nossos equipamentos. Seria a estréia do meu novo motor japonês, um ENYA 15.
Que alegria, tudo era festa. Vários carros passavam por nós, entre eles o carro da RBS, filiada da Rede Globo e também o carro da TV Barriga Verde, filiada do SBT.
Como não podia ser diferente, colocava meu pescoção para fora da janela e gritava:
- É "nóis" na fita!!
Meu irmão, entre risos, falava:
- Fica quieta guria, olha a vergonheira!
Chegamos ao estacionamento reservado à Associação Florianopolitana de Aeromodelismo. Lá nos encontramos com outros amigos, onde um ajudava o outro com seus equipamentos e aviões. Risos, piadas, brincadeiras...
A energia era positiva, como em todos os eventos em que participamos.
Jamais poderia imaginar que aquele dia seria especial. Algo estava para acontecer e seria mágico.
Seria diferente de tudo que já havia vivido até então...

Capítulo 2

Começamos os preparativos na pista de aeromodelo, sorteio para ver a ordem de vôo, testar os equipamentos, contar histórias, sempre querendo parecer "a entendida do assunto", embora, todos soubessem que eu só entendia é de levantar o avião, dar uns vôos e pousar o bichinho sem quebrar.
A disputa maior era para saber quem seria o primeiro a ser filmado e qual seria a imagem usada na TV. Então pensei, "Tô ferrada, não sei fazer acrobacias com o avião, meu irmão vai levar a melhor."
Por lá ficamos, brincando e "tagarelando".
De repente, minha amiga me cutuca com os dedos:

-Olha lá amiga, o que é aquilo?
No que me viro, vejo aquela imagem, um deus grego , parado, logo ali pertinho, dando entrevista para a RBS. Não disse nada, pois não havia o que dizer, não havia palavras para definir o que era aquilo. Apenas pensava: "Meu Deus, como a natureza é bela".
Nessa hora escuto:
- Bia! É sua vez.
Lá fui eu. Corri para o centro da pista, aguardando a ligada do motor. Meu irmão e o nosso amigo, Adriano, batiam a hélice do avião e ajustavam a agulha do motor.
Quando olho para o deus grego, lá estava ele, observando, parado, com a mão na cintura e um leve sorriso no canto dos lábios.
Então pude perceber melhor. Ele era alto, próximo a 1,88 m de altura, cabelo moreno, cortadinho, corpo forte, com uma caixa torácica de fazer perder o fôlego. Vestia um macacão de piloto. É, realmente, aquilo parecia uma miragem.
E ali ele ficou, parado, observando.
Minhas mãos tremiam, eu suava de tão nervosa. Afinal, além de ser um motor novo, a "platéia" entendia do assunto. A minha responsabilidade aumentou.
Acho que rezei uns três Pai Nosso, umas três Ave Maria e metade de Salve Rainha, porque o resto eu não sabia.
Quando dei por mim, meu irmão gritava:
- Bia, tudo ok? Posso soltar?
Não tinha mais volta, agora tinha que encarar o vôo. Minha mão tremia e o coração estava disparado. Dei sinal de ok. E continuei a rezar...

Capítulo 3

A decolagem foi perfeita, o avião respondeu muito bem ao novo motor. O vôo foi excelente, até fiz umas manobras mais arrojadas. A aterrissagem foi macia. Melhor impossível.

Sorrindo de satisfação, olhei para o deus grego. Cadê? Sumiu. Não estava mais lá.

Perguntei para minha amiga:
- Cadê aquilo?
- Olha lá, está vendo aquele avião ali? Pois é, ele entrou lá, com aquela repórter da RBS.

Passados alguns minutos, o avião em que ele estava levantou vôo.
Continuamos nossas brincadeiras e vôos. Passaram-se algumas horas, até que chegou um soldado e entregou em minhas mãos um convite para almoçar no Cassino dos Oficiais. Não entendi nada, pois o combinado é que todos nós do grupo de aeromodelismo iríamos almoçar no refeitório da Base, junto com os soldados. Achei que havia um equívoco no convite, então me dirigi ao presidente de nosso clube e entreguei a ele o convite, pois afinal, entre os aeromodelistas, o presidente é quem decidia tudo, era o nosso "chefe", portanto, o convite deveria ser dirigido a ele.

Eu e minha amiga resolvemos passear pela Base e ver a exposição. Havia vários aviões abertos para entrar e um instrutor explicando como tudo funcionava naquelas máquinas.

De repente, ao meu lado, quem passa? Ele. O deus grego. Logo atrás, aquela repórter da RBS que não saia do pé dele.

Pensei comigo: "Essa mulher não é boba. Será que já trocaram telefones? Mas que idiota! O que eu tenho a ver com isso”?

Fomos almoçar, comemos no refeitório dos soldados, batemos talher, cantamos a música que os soldados cantavam, e a diversão foi garantida. Nosso presidente não estava, pois almoçava no Cassino dos Oficiais, um prédio ao lado.

Retornamos aos nossos vôos, pois a SBT havia pedido para gravar uma reportagem com todos do grupo, voando. Novamente um vôo tenso, mas perfeito. Quando pousei meu pequeno avião e sorria de satisfação, senti que alguém estava observando, e lá estava ele, o deus grego. Parado, com as mãos na cintura e um leve sorriso nos lábios. Pude perceber que os lábios eram grandes e os dentes perfeitos. Meu Deus, o ar quase me faltou.

Senti, naquele momento, que ele viria em minha direção. Prendi a respiração - não estava acreditando - mas a repórter da RBS logo veio atrás e puxou-o pelo braço. Pronto, lá estavam eles novamente juntos.

Então comentei com a Fabi:
- Imagine se “isso” iria me dar bola! Aquela repórter é toda poderosa, com aquele salto alto, cabelo de novela e aquele traje ultra feminino... Nossa, nem se compara com meu agasalho amarelo com listas vermelhas e tênis. Sem dizer do meu perfume, que agora é só óleo Castrol!

Caímos na gargalhada e continuamos nosso passeio pela Base. Fomos para o campo de pouso dos helicópteros, pois iria começar uma demonstração de resgate. Paramos em baixo da asa de um avião Bandarulha (Avião Bandeirante de Patrulha).

Ali ficamos observando a demonstração e de repente, em minha direção... Vem o deus grego. Ele me olhou nos olhos e deu um sorriso.
Pela primeira vez, ouvi sua linda voz.

Capítulo 4

-Por que você não aceitou meu convite para almoçar Beatriz?
Tentando me recuperar do susto, perguntei:
-Como você sabe meu nome?
De novo aquele sorriso no canto da boca:
- Está escrito no seu crachá.
"Meu Deus, como sou tansa", pensei. A minha amiga Fabi disfarçou a risada e eu fiquei vermelha, parecia um pimentão.
- Bem, pensei que o convite era para o nosso presidente.
- Sim, o presidente do grupo também ganhou um convite, mas quem apareceu por lá com ele foi um outro aeromodelista.
Então me toquei que o meu irmão não estava com a gente.
"Safado! Comeu do bom e do melhor enquanto eu e minha amiga, junto com os outros, comemos aquele feijão aguado do refeitório. Por isso que ele falou que o camarão estava bom e eu não havia visto nenhum camarão por lá”.
- É, acho que me equivoquei. Desculpe-me, mas de qualquer forma, não teria como, pois eu e minha amiga não nos separamos por nada. Mas agradeço seu convite.
Então, com o rosto mais próximo do meu, olhando fixamente em meus olhos, falou:
- Posso repetir o convite para um jantar? Hoje mesmo? E agora, sem equívocos.
Olhei para a Fabi, o seu olhar estava arregalado, nem ela acreditava no que ouvia. Eu não sabia o que dizer. Fiquei visivelmente sem graça, vermelha como pimenta.
- Bem... Eu não sei, acho que hoje já tenho compromisso. Mas quem sabe um outro dia.
Mas por dentro, pensava comigo: "Ai, era só o que eu queria. Como queria Meu Deus!"
Então escutei a voz do meu querido irmão chamando:
- Bia! Vamos, está na hora de ir embora. Vem ajudar a levar as coisas, anda guria!
Olhei para o deus grego e mal consegui falar:
- Quem sabe outro dia a gente se encontra, agora tenho que ir. Como é seu nome?
Ele simplesmente mostrou o bordado do seu uniforme: Tenente Aviador Douglas.
- Bem, então, tchau Douglas. Até outro dia.
- Tchau "Bia". Até logo mais.
Eu e minha amiga fomos caminhando, eu não acreditava naquilo. "Até logo mais?" Olhei para trás e lá estava ele, parado, com os braços cruzados, apenas observando. Pedi para a Fabi:
- Me belisca amiga, será que não estou sonhando? Ele me convidou mesmo para um jantar?
- Convidou sim D. Bia, pode acreditar. Que sorte a sua, amiga. O deus grego agora tem nome: Douglas.
- Impossível... Ele não tem meu telefone. Nem deu tempo de conversar!
E demos muitas risadas.

Capítulo 5

Chegamos em casa e meu irmão, como sempre, se enfiou no banheiro primeiro. Comecei a contar sobre os acontecimentos do dia para minha mãe, não escondi nem um detalhe. Contei tudo sobre o deus grego que tinha um nome, Douglas.

Logo veio o conselho de mãe:
- Cuidado, esses homens mais velhos são os mais perigosos. Você não deu o telefone né minha filha?
- Mas ele não é velho não mãe, deve ter uns 27 ou 28 anos, no máximo. Não mãe, claro que não dei o telefone, nem pensar, mas até que eu queria viu.
- É mesmo? E era realmente bonito?
- Se era. Só que é muita areia pra meu caminhãozinho.

O ruído da porta anunciava que meu irmão estava saindo do banho, então peguei minhas roupas e toalha e fui para o chuveiro.
Que banho bom... Me enchi de espuma, parecia difícil tirar aquele cheiro de combustível de avião, levei quase uma hora embaixo daquele chuveiro. Dá-lhe sabonete "Lux."

Ao sair do banho minha mãe vem correndo:
- Bia, você falou que não deu o telefone, mas o tal de Douglas acabou de ligar e queria falar com você. Inclusive falou seu nome completo.
- Como assim, nome completo? No meu crachá só tinha Beatriz e eu nem dei o telefone! Juro mãe, não dei telefone mesmo. Como ele falou?
- Eu atendi, ele perguntou por Beatriz Cristina, então falei que você estava no banho e que ele ligasse mais tarde. Nossa, que voz bonita mesmo minha filha. Que educação, bem simpático, mas cuidado, esses tipos são os piores. Veja bem aonde você vai se meter.

Fiquei pensando: Como ele sabia meu nº de telefone? Como conseguiu? Não demorou muito e o telefone tocou novamente. Senti um frio na espinha. E agora? Atenderia ou não? Lá veio minha mãe fazendo sinal, logo percebi que era o deus grego, o tal de Douglas.
Fui atender:
- Alô.
- Boa noite, é a Bia?
- Sim, sou eu. Quem é?
Fiz-me de boba, é claro que eu sabia de quem se tratava. E que voz!!! Meu Deus, era de tirar o fôlego.
- Sou eu, o Douglas, lembra?
Deu para sentir o riso na voz.
- Claro, como vai? Que surpresa, mas como você conseguiu meu telefone?
Eu tremia igual vara verde. Não conseguia acreditar naquilo.
- Procurei na ficha de inscrição do Clube de Aeromodelismo. Tinha até uma foto sua. Pena que não foi possível conversarmos melhor hoje, o dia foi muito corrido. Então, está de pé nosso jantar hoje?

Minha vontade era de dizer: Sim, sim, sim... Mas a voz de minha mãe ecoava na mente: "Cuidado, esses são os mais perigosos." Logo a emoção deu lugar à razão.
- Bem, é que estou muito cansada. Como você disse, o dia foi muito corrido. Quem sabe outro dia, você liga e combinamos algo.
Houve um breve silêncio e deu para sentir em sua voz certo desapontamento.
- Compreendo, o dia de hoje foi muito movimentado. Vou te ligar outro dia, então combinamos um jantar ou um cinema.

Eu queria me dar tapas na cara àquela hora, de tanta raiva que sentia de mim mesma, afinal o que mais queria era dizer “vamos jantar sim, pode passar aqui, vou voando!”. Mas o conselho de minha mãe falou mais alto. Então, o jeito foi me despedir:
- Isso, vamos marcar um cinema qualquer hora. Mas fiquei feliz com seu telefonema.

Despedimos-nos e desliguei. Fiquei ali, ao lado do telefone, parada, tentando acordar, parecia que estava nas nuvens ou sonhando. Logo tratei de ligar para a Fabi:
- Amiga, nem te conto! Adivinha quem ligou? Estou nas nuvens Fabi, nas nuvens!
Sorrindo, a Fabi já falou:
- O deus grego? Eu sabia... Aquele olhar de hoje a tarde deu para ver tudo, o cara ficou caidinho também. É amiga, você está poderosa!... rsrs....
Ficamos conversando e dando risadas, tentando decifrar as intenções do deus grego.

Capítulo 6

Fui dormir, mas rolava na cama e ficava pensando: "Se ele ligar novamente, como vou aceitar o convite? Eu não tenho roupa de mulher poderosa, só uso tênis, agasalho, jeans, malha. Nem saia eu tenho. Como vou fazer?"
Até que o sono venceu e dormi como um anjo.
No dia seguinte, ao acordar, fiquei tentando lembrar se foi sonho ou realidade. Arrumei-me correndo, peguei o ônibus e fui para a Universidade. Nem sei o que o professor falou, nem conseguia prestar atenção na aula, só pensando... pensando... e sonhando.
Aos 20 anos de idade minha cabeça parecia de 15, uma verdadeira adolescente. Mas lá no fundo a voz de minha mãe ecoava: "Cuidado, esses são os piores." Isso me incomodava, pois sempre acreditei naquele ditado popular: Coração de mãe não se engana.
Passei o dia na Universidade, tinha aulas de manhã e a tarde. Retornei para casa no início da noite e minha mãe logo veio com recados e sorrisos:
- Olha, esse tal de Douglas ligou de novo. Acho que vai pegar no seu pé. Se você não quer nada com o moço, é melhor falar logo, mas se você gostou minha filha, ir ao cinema não faz mal algum, você já tem bastante juízo na cabeça e sabe do que estou falando.
- Claro mãe. Posso ir mesmo no cinema? A mãe deixa?
- Sim, mas depois do cinema, direto pra casa. Nada de esticar. Juízo minha filha, juízo.
Fiquei perto do telefone a noite inteira, cada vez que tocava corria atender. Mas nada, ele não ligou e fiquei muito triste, afinal, um homem lindo daquele devia ter muita mulher bonita dando em cima. Ele não iria perder tempo comigo. Fui dormir completamente decepcionada e a noite foi péssima.
Assim passou a semana, nenhum sinal. Já estava conformada. Foi apenas uma ilusão, coisa que imaginei, me senti uma Cinderela e agora o conto de fadas terminou.
A sexta-feira amanheceu cinza, chuva fininha e um friozinho chato. Não havia aula naquele dia. Estava em casa e lendo aqueles romances Julia, Sabrina, Bianca, etc.
No meio da tarde o telefone tocou e meu irmão atendeu. Apenas escutei aquele jeito "educado" do Fernando em falar comigo:
- Bia!! Telefone! Anda guria, parece uma tança surda. Não escutou eu te chamar não?
Como fiquei irritada já respondi no mesmo tom:
- Não, não escutei não, seu retardado. E pára de me chamar de tança!
Atendi o telefone e quase cai de costas quando escutei aquela voz:
- Olá moça. Acordei você?
Gelei da cabeça aos pés. Fiquei vermelha e morrendo de vergonha, com certeza ele escutou eu e meu irmão trocarmos aquelas gentilezas todas. Mal consegui responder:
- Não, eu estava um pouco longe, por isso demorei um pouco. Tudo bem comigo e com você?
- Eu estive fora essa semana, estava em treinamento no RS e retornei hoje. E ai? Nosso cinema sai ou não sai?
- Vamos sim, podemos marcar.
- Ok, passo às 7 na sua casa. E pegamos à sessão das 8. Tranqüilo pra você?
Meu Deus, e agora? O que fazer? Nem saberia o que vestir. Era pouco tempo para me virar com algo decente, algo mais feminino. Mas não queria mais perder tempo, já tinha arranjado desculpas demais.
- Tá certo. Te espero. Mas como você vai chegar aqui? Eu não te dei o endereço!
- Nem precisa, já tenho ele em mãos, peguei na sua ficha de inscrição, lembra?
Combinado. Sete horas ele passaria para me pegar.

Capítulo 7

A preocupação era a roupa. O que vestir? Liguei correndo para minha amiga Fabi.
- Fabi, socorro! Preciso de uma roupa decente para sair. O deus grego ligou, vamos ao cinema, amiga. E agora? Eu não tenho nada dessas coisas de saia e salto alto. O que faço?
- Deixa comigo amiga, vou ver o que posso fazer e já te ligo. Quem manda pedir motor de avião, viu? Bem feito, devia era ter pedido um salto alto e umas roupinhas mais femininas né amiga. Mas não se preocupe, você sabe que pode contar comigo. Já te ligo de volta.
Depois de uns vinte minutos minha amiga e fada madrinha retorna a ligação.

- Você tem como passar aqui no DETER? A minha amiga Ângela tem o seu manequim e tem umas roupas lindas, super transadas, você pode escolher. Ela mora aqui ao lado e num instante você chega lá.
- Estou indo. Beijos.

E agora? Não tinha muito tempo. A solução era meu "querido" irmão. Tratei de fazer uma voz bem querida:
- Ô Fernandinho, você me leva ali na Avenida Rio Branco um instantinho? Eu preciso pegar umas roupas na casa de uma amiga.
- Ah!! Agora você vem pedir né? Mas eu não era retardado?
- Mas é urgente e rápido. Vai, me leva lá bem rapidinho?
- Vai sair com tal rei grego? (Usou deboche na fala).
- Não é "rei" grego, é deus grego, seu tanço!
- Agora, além de retardado sou tanço.


Nisso minha mãe entra na cozinha e interfere a meu favor:
- Ajuda sua irmã Fernando, você é o único que sabe dirigir aquele Opala de marcha no volante, ela precisa de ajuda. Colabora filho.
- Tá certo, eu levo, mas sem demorar, preciso sair hoje também.

Cheguei na casa da Ângela, que já estava me esperando. Ficamos conversando e provando roupas. Então depois de quase uma hora e meia decidimos o que iria levar.

Quando retornei para o carro, meu irmão já estava espumando:

- Ô guria, que demora, não adianta se "emperiquitar" toda, porque no seu caso, nem o Ivo Pitanguy dá jeito!

Nem dei bola para a provocação, estava radiante. A roupa não poderia ser mais adequada. Uma blusa verde que acompanhava um casaquinho de malha de manga comprida e um sapado de salto preto. A calça seria jeans e isso eu tinha. Combinou com meu estilo, simples, esportivo, mas bem feminino.

Tomei o banho e fui me arrumar, o tempo já estava se esgotando. Pela primeira vez fiz uma maquiagem no rosto. Usei apenas um lápis no olho e um batom suave. Mais do que isso iria me sentir uma perua.
Meu irmão olhava com olhos atravessados e debochava:
_ Hi..hi...hi.. vai pescar?

Nem dei bola para suas ironias.

Pontualmente, às sete horas, percebo um carro parando na frente de casa.
Abri a porta e fui até no portão. Meu coração estava disparado, batia de forma descompassada.

Capítulo 8

O carro estava estacionado em frente. Douglas saiu do carro e veio abrir a porta.
Nunca ninguém havia feito isso antes. Abriu a porta do carro com o sorriso mais lindo que se possa imaginar. Entrei e sentei. Que conforto, que perfume agradável, bem diferente do Opala, que cheirava a gasolina com óleo queimado.

Ele entrou no carro, olhou direto em meus olhos e veio suavemente em minha direção, dando um delicado beijo na face, quase encostando seus lábios no meu. Não consegui abrir a boca, estava em estado de choque total. Ele estava realmente lindo com aquela blusa pólo azul e calça jeans. Seu cabelo curtinho todo penteado e a pele do rosto suave. Ele percebeu meu nervosismo e com a voz mais doce do mundo falou:
- Você está linda e seu perfume ... humm... deixe-me adivinhar... Aqua Fresca do Boticário, acertei?

Acertou em cheio, mas isso era fácil, pois todas usavam esse perfume, estava na moda. Isso mostrava que já estava acostumado com o perfume. Novamente a voz de minha mãe ecoava em minha mente: "esses são os mais perigosos".

- É você acertou, mas o seu também é uma delícia. Mas nem vou tentar adivinhar, não conheço perfumes masculinos.
Sorrimos, ficamos ali, parados, apenas nos olhando, parece que o mundo parou de girar. Então, nossos lábios foram se aproximando e aquela boca macia e quente envolveu a minha. Que beijo doce, gostoso. Meu coração parecia uma bomba, qualquer hora iria explodir, de tantos pulos dentro do peito.
Devagar, nossos lábios se afastaram e sem dizer nada, ligou o carro e saímos. Já na esquina ele se virou e falou sobre o filme:
- Você tem alguma sugestão? Qual tipo de filme você prefere?
Então, um pouco mais calma e recuperada daquilo tudo, mal consegui responder:
-Nem sei os filmes que estão passando, mas adoro filme de aventura. Será que tem algum?
- Ótimo, também adoro filmes de ação. Tem um no cine São José, falaram que é muito bom. Vamos nesse, certo?
- Ok, é nesse mesmo.

Então, já mais tranqüila e me sentindo mais à vontade, fomos conversando. Era impressionante a delicadeza, a educação e a inteligência. Fiquei ouvindo-o contar como havia me visto a primeira vez:

- Estava lá conversando com a Sandra, da RBS, e de repente observei uma moça esticando os cabos dos aeromodelos, não acreditei que uma moça bonita pudesse se interessar por aquilo e fiquei ali, queria ver se você pilotava bem mesmo e olha, fiquei impressionado, quero você na minha equipe de vôo.
Caímos na risada, então, aproveitei e falei sobre os nossos aeromodelos e os eventos que nossa associação tinha para esse ano. E assim foi durante todo o caminho, ele realmente se mostrava interessado no meu papo, ouvia com atenção e fazia perguntas.

Chegamos em nosso destino, cinema. Estacionamos ao lado do teatro, próximo ao Cine São José.
Ele comprou os ingressos e entramos. Estava lotado, mas com a ajuda do famoso "lanterninha", conseguimos boas poltronas.
Ele comprou os ingressos e entramos. Estava lotado, mas com a ajuda do famoso "lanterninha", conseguimos boas poltronas.

Capítulo 9

Nem me recordo do filme, sei que tinha aviões, helicópteros, bombas e muita ação e sei que os seus olhos estavam sempre em minha direção.
Quando saímos do cinema, a chuva fininha estava de volta, paramos na cobertura.

- Espere aqui, vou buscar o carro e venho te buscar.
- Nem precisa, não sou como açúcar, não vou derreter não, vou correndo contigo até ali, é pertinho.

Então, bem no meu ouvido e de forma suave ele falou:
- Não é açúcar, mas é doce.

Bem, é impossível descrever aqui o que senti. Nunca em minha vida tinha sido tratada dessa forma, com tanta gentileza e carinho. Mas pensei: "Esse é mestre em cantadas".

Ele foi buscar o carro e ali fiquei, esperando. Então escuto umas vozes bem conhecidas:
- Olha só, é a Bia. Nossa, mas que "chique" essa mulher! Tá diferente, até salto alto.
Eram meus amigos da faculdade, tirando onda com minha cara, rindo e fazendo piadas.
- Vamos na Baturité, Bia? O pessoal todo vai se reunir por lá hoje. Vamos?
- Hoje não dá, mas outro dia a gente combina, ok.
Nesse instante, Douglas estaciona o carro em frente ao cinema, desce e abre a porta. Meus amigos ficaram ali, olhando a cena, em silêncio. Com certeza as piadas iam rolar durante toda semana.
Embarcamos e saímos. O Douglas fez um convite para tomar alguma coisa. Pensei em minha mãe, ela havia dito para ir direto pra casa após o cinema, mas achei que não teria maldade alguma beber um refrigerante. Aceitei o convite.

Fomos a um barzinho com música ao vivo. Muito aconchegante, com arquitetura medieval e luz de velas. Dartanham. Esse era o nome do barzinho. Nunca havia entrado naquele lugar. Fiquei encantada, a música era suave e de boa qualidade, nada de som alto. Sentamos em uma mesa mais afastada, longe do movimento e do barulho.

Com todo cuidado, puxou a cadeira para que eu tomasse assento.
Era tanta gentileza, que chegava a ficar sem graça, não era habituada a essas formalidades. O meu mundo era outro. Saíamos em turma, cada um puxava sua cadeira, disputava as melhores cadeiras nos bares, enfim, completamente diferente do que estava vivenciando no momento.
Ficamos lado a lado, juntinhos, onde podia sentir a sua respiração.
Pedimos um refrigerante e camarão. Imediatamente lembrei-me de Fernando e comentei sobre o almoço daquele domingo.
- Meu irmão levou a melhor naquele dia. Acabou almoçando com você... rsrs..
- É verdade moçinha, fiquei triste com sua ausência no Cassino. Havia pedido ao sargento para lhe entregar o convite, cheguei a pensar que o convite não havia sido entregue, mas assim ficou mais charmoso e minha curiosidade em relação a você aumentou.Nesse momento, segurou minha mão, olhou firme em meus olhos e novamente seus lábios quentes encontraram os meus e o beijo ficou mais intenso, o mundo era nosso. Meu coração pulava no peito e podia sentir que o dele também. Mas aquele instante durou apenas alguns segundos, pois percebemos que os copos estavam sendo colocados na mesa. Ficamos conversando e ele ouvia atentamente minhas histórias, demonstrando um real interesse por aquele meu mundo quase infantil. Alguns casais estavam dançando. A música era lenta e agradável. Douglas fez o convite, e claro, não resisti.
Nossa, como ele era alto! Dançamos algumas músicas e os beijos foram inevitáveis. A noite transcorria de uma maneira rápida e minha vontade era de parar o tempo. Olhamos o relógio, passava da meia-noite. Minha preocupação era com minha mãe, pois ela havia pedido para ir para casa após o cinema. Hora de ir embora.
Ao estacionar em frente de casa, percebi que a luz da sala estava acessa, com certeza minha mãe estava esperando.
Despedimos-nos com mais beijos e antes de descer do carro, Douglas falou:

- Quer ir amanhã comigo na base aérea? Vamos fazer cross. Você gosta?

Odiava moto, morria de medo, mas respondi prontamente:

- Que legal! Adoro moto. Aceito. Então, até amanhã.

Capítulo 10

Depois de mais alguns beijos, desci do carro e entrei.

Minha mãe estava na sala a minha espera:
- Minha filha, porque tão tarde? Onde vocês foram?
- Mãe, não se preocupe, fomos apenas em um barzinho tomar alguma coisa e dançar. Não aconteceu nada. Você confia em mim ou não?
- Claro filha, mas sabe como é, hoje em dia o mundo é tão cheio de maldades e fiquei preocupada. Mas, me conte tudo, como foi?

- Ah mãe! Nunca me senti assim antes, ele é formidável, um cavalheiro!


Ficamos conversando por mais de uma hora, então, o sono chegou e fomos nos recolher.
Deitei, mas não conseguia dormir, sorria sozinha no escuro do quarto, minha mente fervilhava com pensamentos e emoções, até o sono vencer.

O sábado amanheceu nublado, mas sem chuva e com temperatura agradável. Logo após o almoço, o telefone tocou. Era ele.
Passou em casa pontualmente no horário marcado e agora me sentia bem mais à vontade em meu próprio agasalho e tênis. Veio de carro e não de moto.

Seguindo o mesmo ritual, desceu do carro e abriu a porta.

- Pensei que iríamos de moto.

- Não, a moto eu deixo na Base, pois uso somente lá.

Percebi que em seu banco traseiro havia uma roupa de couro colorida e fiquei curiosa:
- Você usa essa roupa especial de cross?

- Uso, e você também vai usar. Quando chegar lá você verá porque.

Meu coração quase saiu pela boca. Meu Deus! Teria que enfrentar aquele passeio de moto. Tive vontade de desistir, mas jamais faria isso. Iria até o fim.


Chegamos na base e fomos na tal pista de cross, então pude entender o porquê da roupa de couro... rsrsrs... Aquela pista era puro barro, uma lama sem fim ...rsrsr...Outros motoqueiros já estavam por lá, todos oficiais da Base Aérea. Alguns acompanhados. Vesti a tal roupa, me senti uma astronauta dentro daquilo, mas confesso, a roupa dava mais segurança. Fomos para a lama.
Chegamos na base e fomos na tal pista de cross, então pude entender o porquê da roupa de couro... rsrsrs... Aquela pista era puro barro, uma lama sem fim ...rsrsr...

Outros motoqueiros já estavam por lá, todos oficiais da Base Aérea. Alguns acompanhados. Vesti a tal roupa, me senti uma astronauta dentro daquilo, mas confesso, a roupa dava mais segurança. Fomos para a lama.

Incrível, mas nunca me diverti tanto. A lama espirrava por todos os lados e tive uma verdadeira aula de equilíbrio, pois o carona deve saber jogar o corpo se não pode colocar tudo a perder e até provocar uma queda. A perícia do Douglas como piloto de moto era exata, tudo saiu perfeito.
Saímos da pista e fomos ao vestiário. Tomei banho e troquei a roupa. Todos se dirigiram ao Cassino e ficamos batendo papo, conversando por horas.
Já era noite quando retornei e minha mãe, como sempre, à minha espera. Contei tudo como foi e percebia nos olhos dela a admiração pelo meu novo "ficante". Pois não sabia definir se aquilo era "namoro ou amizade."... rsrsrs...
Não havíamos combinado nada para o domingo então aproveitei o dia para estudar e colocar as matérias da faculdade em dia.",

Capítulo 11



Estava concentrada em minha leitura quando minha mãe bateu na porta:
_ Bia, você tem visita.

Que susto! Quase cai da cadeira. Lá estava o deus grego, com seu macacão de piloto, parado na soleira da porta, com minha correntinha de ouro nos dedos e um sorriso nos lábios.
- Você esqueceu algo em meu carro.
Coloquei a mão no pescoço e lembrei que havia retirado a corrente antes do passeio de moto.

Como minha mãe jamais permitiria recebê-lo em meu quarto, fomos para a varanda.

- Bia, hoje estou indo para Santa Maria, no RS. Faremos um treinamento de uma semana e só retorno na semana que vem. Se conseguir chegar domingo, te ligo pra gente se ver.

Passou as mãos em meus cabelos e retirou o grampo “tic-tac” que prendia minha franja e colocou em seu bolso.
- Vou levar comigo, posso?

Minha vontade era dizer, "leva eu!!"
- Claro, leve e pense em mim. Vou sentir sua falta. Vê se não demora. Se cuide...

Um longo beijo de despedida e uma sensação estranha no peito, um vazio sem explicação.

A segunda-feira transcorreu tranqüila, mas aquela estranha sensação no peito persistia. A rotina do dia foi interrompida por um telefonema da Fabi

- Bia, tenho uma novidade. Meu chefe é suplente de deputado e agora vai assumir a cadeira na Assembléia Legislativa. Vamos precisar de alguém para datilografar correspondência. Será temporário, apenas por 2 meses e 3 horas por dia. Topas?

- Claro Fabi, será uma boa, posso conciliar com o horário da faculdade e ainda ganhar uns trocados. Oba! Posso comprar minhas hélices novas para o avião. Combinado.


Assim continuou a semana, com a rotina de sempre. A não ser pela saudade de Douglas. E cada vez que eu pensava nele, sentia novamente aquele aperto em meu coração. Na quinta-feira à noite, diante da TV, assisti, aterrorizada, à chamada do Jornal Nacional, que abria com uma reportagem que, de certa forma, explicava aquele meu sentimento de dor.

"Acidente com oficiais da FAB no RS."

Capítulo 12

Meu coração disparou, senti um nó na garganta. Comecei a tremer. Minha mãe, que estava ao meu lado, tratou de me tranqüilizar:


- Não se preocupe filha, não deve ter acontecido nada com ele. Você vai ver. Deus é Pai.


Mas aquela sensação no peito continuava. Como buscar notícias? A única coisa que sabia sobre o Douglas é que sua família morava em São Bernardo do Campo, SP.


Liguei para a Base Aérea de Florianópolis, mas eles só podiam passar informações a familiares. Minha aflição aumentava a cada minuto.
O Jornal Nacional começou, fiquei atenta ao noticiário. Iniciaram a reportagem sobre o acidente. Falava que um helicóptero havia sofrido uma pane na decolagem e atingiu o solo sem controle, causando ferimentos leves em alguns tripulantes, mas o piloto havia ido para a UTI. Não falou o nome do piloto. De certa forma fiquei mais aliviada, porque ele era piloto de avião de patrulha e não de helicóptero e o treinamento era para avião de caça. Mas aquela aflição por falta de notícias continuava.

Foi a pior noite de minha vida, não conseguia dormir, rolava na cama de um lado para outro.


O dia amanheceu ensolarado e muito calor. Calor demais para a época do ano, mas estávamos na primavera e tudo era possível. Como não tinha aula na universidade naquele dia, levantei mais tarde, ainda preocupada e ansiosa por notícias. Liguei a televisão, mas nenhuma notícia. Liguei novamente para a Base Aérea, mas a mesma resposta do dia anterior.
Após o almoço o telefone tocou, corri para atender. Quando ouvi aquela voz nem acreditei:


- Olá Bia. Estou de volta, com saudades e preciso te ver.


Que alívio! Meu Deus, tinha vontade de gritar de alegria.


- Oi Douglas, que bom ouvir sua voz, que alívio, estava tão preocupada. Como você está? Eu soube de um acidente e estou aflita por notícias suas.


- Não fique assim amor, estou bem. O acidente foi com outro grupo, mas está tudo bem. Por isso voltamos antes do previsto.


- Você não imagina o alívio em ouvir sua voz. Tive uma noite péssima, pensando coisas ruins. Mas que bom, ainda bem que você voltou antes do esperado. Também estou com saudades e louca para te ver.


- Ótimo, vamos matar essa saudade. Vou te levar para um passeio diferente. Vamos?

Capítulo 13

- Passeio diferente? Oba!! Adoro coisas diferentes. O que é?
- Vamos fazer sandboard nas dunas da Joaquina. Gosta?
- Bem, já vi outras pessoas praticando sandboard, mas nunca fiz. Vou adorar.
- Ok, passo ai dentro de uma hora.

Uma hora após o telefonema, o carro parava em frente de casa. Seguindo o ritual, ele desceu e abriu a porta, mas não entrei, fiquei ali, parada, me certificando se realmente ele estava bem, se aquele pesadelo havia terminado.

Nos abraçamos. Um abraço longo e apertado e um beijo quente e mais demorado ainda. Em meu ouvido falou baixinho:

- Você não imagina a saudade, voltei hoje e tinha que te ver. Que delícia te ter nos braços. Após mais um beijo embarquei no carro e seguimos para as dunas. Fomos conversando, rindo, brincando um com o outro. Nunca tinha visto aquele olhar tão brilhante, ele estava eufórico.

Tirou do bolso o meu "tic-tac" e falou:
- Não me separei dele em nenhum momento e não vou mais me separar. Agora será meu "guia da sorte”.

Chegamos nas dunas. Douglas retirou do porta-malas duas pranchas de sandboard e subimos as dunas. Ele me puxava pela blusa de dizia:

- Vamos sua fumante! Larga o vício e você verá seu fôlego voltar... rsrs... Anda!!

Uma prancha era grande e larga, nela descemos as dunas, sentados. A areia voava por todos os lados e nossas roupas eram somente areia. Entre risos e gargalhadas, trocávamos beijos, cada vez mais longos e apaixonados.

Depois de muito cansaço, pedi para descansar. Sentei nas dunas e fiquei observando ele descer com a outra prancha. Era mais estreita. Então entendi. Ele descia em pé. Um verdadeiro surfe sobre dunas. Nenhum tombo, total equilíbrio. E que performance!

Depois de muitas subidas e descidas:
- Vem, agora é sua vez. Vai ter que surfar.
- Não! Nem pensar, isso eu não sei. Tenho medo.
- Não precisa ter medo, eu te guio. Vamos naquela outra duna, lá é mais baixo. Vamos!!

Mesmo morrendo de medo resolvi enfrentar aquele desafio. No início foi difícil, algumas quedas e muita areia na boca, mas depois peguei o jeito, e então não queria mais parar.
Ele dava muitas risadas.

Já era final da tarde quando resolvemos ir embora. Estava super cansada e ele também.
Na subida do morro da Lagoa da Conceição, avistamos algumas asas deltas no ar e por curiosidade perguntei:

- Você gosta de asa Delta?
Nesse momento Douglas parou de sorrir e a reposta veio rápida e ríspida:
- Não.

Capítulo 14

Sua fisionomia se transformou. Ficou visivelmente irritado. Calou-se e assim seguimos nosso caminho. Achei aquilo estranho, mas não fiz nenhuma pergunta e permaneci em silêncio.
Quando chegamos no início da ponte, o trânsito estava todo parado.
Era uma blitz envolvendo polícia militar, civil, federal e rodoviária. Vários carros sendo revistados.
Paramos o carro e em seguida um policial chegou até a janela do carro:

- Boa noite, os documentos do carro e do senhor.

Douglas abriu o porta-luvas do carro para pegar os documentos, nesse instante deixa cair de dentro uma foto, que cai justamente sobre minhas pernas. Peguei a foto e vi o que não queria. Douglas e uma loira, abraçados. Mesmo estando um pouco escuro, pude perceber a beleza da mulher da foto. Era linda, diria talvez, magnífica. Coloquei a foto de volta no porta-luvas e permaneci em silêncio.

O policial verificou os documentos do carro e de Douglas, vendo que se tratava de um oficial da aeronáutica logo tratou de liberar, sem revistar o carro.

Seguimos o caminho em total silêncio. Douglas estava visivelmente chateado e seu rosto antes iluminado deu lugar a um rosto frio e sombrio.

Chegamos em casa e, meio insegura perguntei:

- Nos vemos amanhã?

De forma fria falou:

- Não sei, eu te ligo.

- Está bem, então tchau.

Não tive coragem de beijá-lo, ele estava completamente estranho. Olhei em sua direção, baixei a cabeça e abri a porta do carro.

Nesse instante Douglas me segura pelo braço:

- Espere Bia, desculpe. Fui ríspido com você, mas acho que o cansaço tomou conta de mim.

Olhei fixamente em seus olhos:

- Olha, Douglas. Não sei porque você ficou assim, estranho, mas se não queres me falar, tudo bem, é um direito seu. Mas antes de descer deste carro, quero te perguntar algo e quero uma resposta sincera. Essa mulher da foto é sua esposa ou algo parecido?
Fez um breve silêncio e a resposta foi direta.

- Não é minha esposa, é minha noiva.
Seu rosto, antes frio, deu lugar ao alívio, percebi lágrimas em seus olhos.

- Bia, é uma longa história, eu pretendia te contar, mas nossa tarde foi tão agradável que não quis terminá-la dessa forma. Semana que vem eu te ligo, vou te explicar tudo. Nesse final de semana meus pais vêm de SP e vou ficar com eles mas, por favor, não pense coisas erradas a meu respeito. Gosto de você e não quero te magoar e muito menos te perder. Promete que vai me ouvir?

Capitulo 15

No mesmo instante, lembrei das palavras de minha mãe: "Esses são os mais perigosos.”


Já com os olhos cheios de lágrimas, dei um beijo em seu rosto e saí do carro. Não ia chorar na sua frente, meu orgulho jamais permitiria isso.


Entrei em casa e minha mãe estava na sala junto com meu irmão. Passei direto e fui para o quarto, minha vontade era de gritar, chorar. Entrei e bati a porta, mas escutei meu querido irmãozinho com suas ironias:


- Vixi! Tô vendo que o "rei grego" virou sapo!


Em seguida minha mãe entra no quarto e pergunta o que havia acontecido. Contei tudo, não escondi nada. Ela ouviu tudo silenciosamente. Apenas me abraçou e me deixou chorar em seu ombro por alguns minutos.


- É mãe, você tinha razão, esses são os mais perigosos.

- Não minha filha, não é bem assim. Espere, tenho certeza que ele irá te procurar e dar uma explicação. Agora tome um banho e tente dormir. Amanhã você estará melhor e vai pensar diferente.

Dormi vencida pelo cansaço.


No sábado pela manhã, liguei para a Fabi e contei tudo o que havia acontecido e, como sempre, ela me animava, dando força e apoio:


- Bia, sua mãe tem razão. Espere, você vai ver, ele irá te procurar e tenho certeza que tudo vai dar certo, amiga. Olha, domingo haverá um campeonato de vela na praia de Canasvieiras e eu vou com meu irmão. Você também vai, assim a gente conversa mais um pouco e vamos nos divertir, certo? Passo ai amanhã logo cedo para te pegar.


Aceitei o convite, pois o que mais queria era tirar aqueles pensamentos ruins de minha cabeça e aquele peso do coração.

sábado, 22 de agosto de 2009

Capítulo 16

O domingo amanheceu ensolarado, calor, ideal para um campeonato de velas.

Fabi passou em minha casa e fomos para a praia. Aquelas velas todas no mar davam um colorido especial. O público era grande, pessoas jovens e bonitas. Arrumamos nossas cadeiras na areia e ficamos por ali observando o movimento. Contei tudo para Fabi, que ouvia atentamente cada detalhe. Após o desabafo, resolvemos dar um passeio pela praia.

Andando pela areia, Fabi alegremente falava:- Hum, mas aqui também está cheio de deuses gregos minha amiga, olhe para os lados. Veja só, tem cada um amiga... rsrsr....

Era impossível não rir, Fabi sabia ser alegre. Sempre com uma solução divertida diante de qualquer situação. Mas não sentia nenhuma vontade de olhar para os lados.
Por dentro me sentia oca, triste. Então convidei Fabi para tomar um refrigerante. Sentamos-nos em um barzinho próximo a areia da praia. Pedimos um refri e um lanche.
Enquanto aguardávamos o lanche Fabi me olha com os olhos arregalados e fala:

- Bia, Bia! Veja! Aquele ali não é o Douglas?
Olhei na direção em que Fabi apontava.- É sim. É ele!

Douglas estava em pé na areia, junto com um senhor de mais idade e em uma cadeira uma moça loira e linda. Meu Deus, nessa hora lembrei da foto. Era ela. Aquele cabelo loiro, comprido. Não tinha como se enganar. Realmente a moça era muito, muito bonita.
Ficamos ali por mais ou menos uma hora. Até que observei o Douglas fechar o guarda-sol, guardar objetos em bolsas e se dirigir ao carro. A moça continuava lá, sentada em sua cadeira, com shorts e a parte de cima com biquíni. Douglas retornou e a cena que assisti paralisou meu coração e comecei a entender muitas coisas.

Capítulo 17

Douglas pega aquela linda moça no colo, e o senhor de mais idade pega a cadeira. Dirigem-se ao carro, onde aquele senhor abre a porta e Douglas acomoda a moça no banco da frente.

Eu e Fabi apenas nos olhamos. O que seria aquilo? Será que a moça linda da cadeira era aleijada? Fabi colocou a mão sobre a minha e disse:
- Amiga, acho que ele terá muita coisa para te explicar e pelo que te conheço, vá com calma, não coloque os pés pelas mãos. Não julgue, apenas escute.

Depois disso, o dia - que já não estava bom - ficou péssimo. Fomos embora, precisava ir dormir cedo, pois no dia seguinte iria iniciar na Assembléia Legislativa o trabalho temporário, pelo menos isso iria me distrair, afinal, seria a primeira vez que iria trabalhar e ganhar uma graninha.
Dormi e tive pesadelos durante a noite.

Segunda-feira, inicia a semana e uma nova rotina. Pela manhã faculdade e após o almoço, meu primeiro trabalho. Dessa forma seguiu-se a semana. O telefone não tocou nenhuma vez. A tristeza e a mágoa se dissiparam, deixando apenas algumas dúvidas, se ele iria um dia me procurar ou não.
Na sexta-feira a noite o telefone toca e meu irmão atende:

- Bia! Telefone! Acho que é o sapo!

Gelei da cabeça aos pés e com o coração disparado fui atender.

- Alô, é Bia.

- Oi Bia, que bom ouvir tua voz. Como você está?

- Bem. Foi a única coisa que consegui responder.

- Bia, preciso falar com você. Posso passar ai e te pegar?

- Não, não pode. Estou trabalhando agora e hoje estou cansada, foi minha primeira semana e não acostumei com essa rotina ainda. Outro dia, pode ser?


Minha vontade era de falar: “Vem, vem porque estou morrendo de saudades.” Mas o orgulho era maior. Que raiva sentia de mim mesma!

- Compreendo Bia, você está magoada, mas olhe, precisamos conversar. Amanhã então?
Respirei, pensei e falei:
- Douglas, você gostou do campeonato de velas em Canasvieiras? Eu não, achei o resultado injusto. E você?


Segui-se um breve silêncio. Acho que ele compreendeu que o havia visto na praia. Atingi o alvo.

- Amanhã estou passando ai, perto das 2 da tarde.

- Não venha. Já falei, tenho uma nova rotina. Não perca seu tempo.

Desliguei o telefone. Nunca me senti tão segura em toda minha vida. Meu irmão tinha razão, o príncipe virou um sapo e eu estava começando a me tornar adulta.

Capítulo 18

Na segunda-feira cheguei para trabalhar mais cedo e Fabi estava sentada na sua magnífica poltrona de secretaria com um envelope em mãos:

- Sabe o que é isso amiga? Um convite para o nosso deputado ir à abertura de um Rodeio. E sabe o que mais? Ele não poderá ir e eu vou representá-lo, ou melhor, nós vamos.

- Rodeio? Quando? Como assim? Onde?
- Credo amiga, quantas perguntas. Olhe, será na semana que vem, no feriado de 15 de novembro, numa cidade do interior do estado. Nós vamos e iremos nos divertir, andar a cavalo, paquerar, comer do bom e do melhor, enfim, vamos fazer a festa, amiga!!

Diante de tanta alegria e da certeza de Fabi, não tive escolha, aceitei imediatamente o convite e, com uma agradável sensação no peito, sorri e falei:

- Ok amiga, você agora é minha "chefa" e seu desejo é uma ordem.

A semana seguiu normalmente, já estava habituada com a nova rotina e muito satisfeita com o emprego, afinal, aquele diploma de datilografia estava servindo para alguma coisa.
O Douglas não ligou mais. Nenhum sinal, nenhum telefonema. Apesar de estar recuperada da minha decepção, sentia lá no fundo uma tristeza e um arrependimento por não ter aceitado o seu convite para sair. Mas a viagem que faria com Fabi estava me deixando eufórica, iríamos para um lugar diferente e com certeza iríamos conhecer pessoas diferentes.
Chegou o dia da viagem, embarcamos com tudo pago pelo nosso querido chefe, o deputado. Foi o feriadão mais surpreendente que já tive. Conheci Leonardo, um rapaz completamente diferente do Douglas. Simples, sereno, meigo e lindo. Uma pessoa que causou diferentes tipos de sentimentos, nada de turbilhões, mas uma sensação de tranqüilidade, paz interior e uma alegria imensa de poder ser eu mesma, sem máscaras.
Leonardo: esse nome suava como música... Que paz ... Que tranqüilidade... "Um verdadeiro encontro de almas."
Parecia que aquele encontro estava escrito nas estrelas, uma conspiração do Universo.

Capítulo 19

Retornamos a Florianópolis e a nossa rotina de sempre, mas a imagem de Leonardo não saia de minha cabeça. Aquele sorriso, aquela simplicidade. Um sentimento confuso começou a tomar conta de mim. Mas evitei pensar, afinal havia uma longa distância entre nós. Morávamos em municípios diferentes e portanto, ele se tornaria apenas uma linda lembrança em meio ao caos em que estava vivendo.
Quarta-feira, termina a aula na faculdade, a chuva era forte. Saí da sala de aula e me dirigi ao ponto de ônibus, precisava pegar o "busão" das 11h e 30min. para não chegar atrasada na Assembléia. Estava correndo entre os carros no estacionamento para evitar me molhar quando escuto aquela voz tão conhecida.

- Bia! Bia!! Beatriz!! Olhei para trás e lá estava o Douglas, quase todo encharcado. Parei e voltei em sua direção.
- Vem ligeiro, meu carro está logo ali.Não havia como discutir, caia muita água, a única alternativa era aceitar o convite e entrar no carro.
Nós dois, quase que inteiramente molhados, entramos no carro.

- Bia, nós vamos almoçar juntos e vamos conversar, tenho muitas explicações para te dar e não pode passar de hoje.Fomos a um restaurante no centro da cidade. Sentamos-nos e pedimos o almoço. Douglas me pareceu inquieto e pela primeira vez percebi nele certa insegurança. Permaneci calada, nenhuma pergunta.
O silêncio constrangedor foi quebrado por Douglas:
- Eu fui o culpado.
- Culpado? Culpado de quê?
- Pela paralisia de Sílvia. Vou te explicar tudo.
Se antes eu estava calada, fiquei completamente muda diante do que ele me contava.

- Cerca de um ano atrás, convidei a Silvia para um vôo de asa delta, meu esporte preferido. Ela não queria ir de jeito algum, mas insisti, queria fazê-la perder o medo de voar. Pela minha insistência Silvia acabou cedendo. Foi comigo voar, somente para me satisfazer. Fizemos um vôo em dupla, mas não sei o que aconteceu, na hora de pousar deu problema com a asa delta. Eu, como tinha experiência, consegui amortecer a queda e sai com ferimentos leves, mas a Silvia, diante do desespero e do total desconhecimento, acabou se ferindo gravemente. O impacto foi muito forte e lesionou a coluna vertebral.
O almoço chegou, mas Douglas nem tocava na comida e muito menos eu, que estava atônita diante do que ele falava.

- A partir daí, Silvia passou por diversas cirurgias e fisioterapias. Os médicos falam que Silvia voltará a andar, aliás já vem apresentando melhoras significativas nos últimos meses, mas sua profissão de modelo não poderá ser mais retomada. Silvia é órfã de pai e mãe e tem apenas uma irmã, que mora na Espanha.

Douglas me olhou nos olhos pela primeira vez durante a conversa, esticou seu braço e pegou em minha mão, fez um leve carinho e continuou:

Capítulo 20

- Você entende agora a minha situação Bia? Agora você entende porque fui tão seco naquele dia em que você perguntou sobre a asa delta? Porque lembrei da minha culpa e principalmente... Porque sabia que chegava a hora de contar tudo a você. O meu conto de fadas é que chegaria ao fim. Mas não quero te perder Bia, gosto de você, me sinto bem do seu lado. Você não tem medo, se arrisca, brinca, me faz sentir vivo, entende?

Entender? Sim, entendia sim, e o que eu mais queria era sumir dali. A única coisa que consegui falar:

- Douglas, não sei o que te dizer. Entendo sua situação, mas agora, com tudo isso que você me contou, acho que é melhor colocarmos um fim nisso tudo. Eu também gosto muito de você, mas nossa história fica por aqui.

Não conseguia falar mais nada, meus olhos estavam cheios de lágrimas. Então Douglas continuou:

- Bia, sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas eu quero você.
Interrompi:
- Douglas, nós não temos o direito... Não temos. Por favor, me dê licença.

Levantei apressada, dei um beijo em seu rosto e saí ligeiro do restaurante. Não dei tempo para nenhuma reação de Douglas. Apenas ouvi sua voz me chamar. Mas não olhei pra trás, saí como um furacão.
A chuva já estava calma, fininha, mas apressei o passo, não sabia o que pensar. Dentro do peito um vazio imenso, uma dor que não tem descrição. Era o fim, eu sabia disso.

Último Capítulo - 21


Cheguei na Assembléia e entrei no gabinete. Não havia ninguém, estavam em horário de almoço. Sentei-me na cadeira e não acendi a luz. Fiquei ali, imóvel. Não conseguia derrubar uma lágrima, apenas um sentimento de vazio. Aqueles dias, ao lado de Douglas, passaram como um filme em minha mente e soube que eles duraram o tempo suficiente para se tornarem inesquecíveis, mas agora, chegou ao fim.


Fabi chegou e contei tudo o que aconteceu e como sempre, suas palavras foram para animar:

- Bia, você é a menina mais "sortuda" que conheço. Pense bem amiga, não fique lamentando porque acabou, você não tem culpa de nada, você é completamente livre e linda, viu? Linda, sim. E tenho certeza que aquele rapaz que você conheceu no fim de semana vai te procurar e logo você vai esquecer o Douglas. Força amiga, você sempre fez piada de tudo, agora é hora de sorrir porque aconteceu e não se entristecer porque acabou.


Fabi tinha razão, o que aconteceu foi bom e agora era olhar para frente e seguir.
Trabalhei minhas 3 horas do dia e fui para casa, onde contei tudo para minha mãe, que ouvia com atenção:


- Sabe Bia, meu coração dizia que algo não estava claro nessa história. Afinal, a quem ele queria enganar? Você ou a pobre moça? Olhe Bia, você é muito jovem ainda e tem muitas coisas para viver. Agora levante essa cabeça e siga em frente. Nada como um dia após o outro.


Como sempre, minha mãe tinha razão. Eu tinha muitas coisas para viver, ainda. Nada no mundo iria abalar meu jeito alegre de ser e eu sabia que a vida se vive um dia de cada vez.

Mal eu sabia que o verdadeiro "Top Gun" estava entrando em minha vida. Aquele que realmente me faria voar, criar asas...

Na sexta-feira à noite o telefone toca e minha mãe vem me chamar:


- Bia, uma ligação pra você, é o Leonardo.

Começa aí o maior vôo de minha vida. Mas essa já é uma outra história...



Fim