domingo, 23 de agosto de 2009

Capítulo 6

Fui dormir, mas rolava na cama e ficava pensando: "Se ele ligar novamente, como vou aceitar o convite? Eu não tenho roupa de mulher poderosa, só uso tênis, agasalho, jeans, malha. Nem saia eu tenho. Como vou fazer?"
Até que o sono venceu e dormi como um anjo.
No dia seguinte, ao acordar, fiquei tentando lembrar se foi sonho ou realidade. Arrumei-me correndo, peguei o ônibus e fui para a Universidade. Nem sei o que o professor falou, nem conseguia prestar atenção na aula, só pensando... pensando... e sonhando.
Aos 20 anos de idade minha cabeça parecia de 15, uma verdadeira adolescente. Mas lá no fundo a voz de minha mãe ecoava: "Cuidado, esses são os piores." Isso me incomodava, pois sempre acreditei naquele ditado popular: Coração de mãe não se engana.
Passei o dia na Universidade, tinha aulas de manhã e a tarde. Retornei para casa no início da noite e minha mãe logo veio com recados e sorrisos:
- Olha, esse tal de Douglas ligou de novo. Acho que vai pegar no seu pé. Se você não quer nada com o moço, é melhor falar logo, mas se você gostou minha filha, ir ao cinema não faz mal algum, você já tem bastante juízo na cabeça e sabe do que estou falando.
- Claro mãe. Posso ir mesmo no cinema? A mãe deixa?
- Sim, mas depois do cinema, direto pra casa. Nada de esticar. Juízo minha filha, juízo.
Fiquei perto do telefone a noite inteira, cada vez que tocava corria atender. Mas nada, ele não ligou e fiquei muito triste, afinal, um homem lindo daquele devia ter muita mulher bonita dando em cima. Ele não iria perder tempo comigo. Fui dormir completamente decepcionada e a noite foi péssima.
Assim passou a semana, nenhum sinal. Já estava conformada. Foi apenas uma ilusão, coisa que imaginei, me senti uma Cinderela e agora o conto de fadas terminou.
A sexta-feira amanheceu cinza, chuva fininha e um friozinho chato. Não havia aula naquele dia. Estava em casa e lendo aqueles romances Julia, Sabrina, Bianca, etc.
No meio da tarde o telefone tocou e meu irmão atendeu. Apenas escutei aquele jeito "educado" do Fernando em falar comigo:
- Bia!! Telefone! Anda guria, parece uma tança surda. Não escutou eu te chamar não?
Como fiquei irritada já respondi no mesmo tom:
- Não, não escutei não, seu retardado. E pára de me chamar de tança!
Atendi o telefone e quase cai de costas quando escutei aquela voz:
- Olá moça. Acordei você?
Gelei da cabeça aos pés. Fiquei vermelha e morrendo de vergonha, com certeza ele escutou eu e meu irmão trocarmos aquelas gentilezas todas. Mal consegui responder:
- Não, eu estava um pouco longe, por isso demorei um pouco. Tudo bem comigo e com você?
- Eu estive fora essa semana, estava em treinamento no RS e retornei hoje. E ai? Nosso cinema sai ou não sai?
- Vamos sim, podemos marcar.
- Ok, passo às 7 na sua casa. E pegamos à sessão das 8. Tranqüilo pra você?
Meu Deus, e agora? O que fazer? Nem saberia o que vestir. Era pouco tempo para me virar com algo decente, algo mais feminino. Mas não queria mais perder tempo, já tinha arranjado desculpas demais.
- Tá certo. Te espero. Mas como você vai chegar aqui? Eu não te dei o endereço!
- Nem precisa, já tenho ele em mãos, peguei na sua ficha de inscrição, lembra?
Combinado. Sete horas ele passaria para me pegar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário